segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Consumo Energético e Desenvolvimento Humano

Níveis de Consumo Energético e Índice de Desenvolvimento Humano


ENERGIA É um ingrediente essencial para o desenvolvimento, que é uma das aspirações fundamentais da população dos países da América Latina, Ásia e África.
O consumo de energia per capita pode ser usado como um indicador da importância dos problemas que afetam estes países, onde se encontram 70% da população mundial.
Nos países em desenvolvimento a expectativa de vida é 30% menor; a mortalidade infantil, superior a 60 por 1000 nascimentos, é inferior a 20 nos países industrializados;
analfabetismo supera a taxa de 20%; número médio de filhos é maior do que dois em cada família e a população está crescendo rapidamente; nos países industrializados, ele é igual a dois, que é justamente o necessário para manter o equilíbrio populacional.
Na maioria dos países, nos quais o consumo de energia comercial per capita está abaixo de uma tonelada equivalente de petróleo (TEP) por ano, as taxas de analfabetismo, mortalidade infantil e fertilidade total são altas, enquanto a expectativa de vida é baixa. Ultrapassar a barreira 1 TEP/capita parece ser, portanto, essencial para o desenvolvimento. À medida em que o consumo de energia comercial per capita aumenta para valores acima de 2 TEP (ou mais), como é o caso dos países desenvolvidos, as condições sociais melhoram consideravelmente. O consumo médio per capita nos países industrializados da União Européia é de 3.22 TEP/capita; a média mundial é de 1.66 TEP/capita.
A importância da energia no desenvolvimento é ilustrada pela figura 1, na qual são mostrados quatro indicadores sociais para diversos países – taxa de analfabetismo, mortalidade infantil, expectativa de vida e taxa de fertilidade total – como uma função do consumo de energia comercial per capita.

O Brasil, com 1.3 TEP por habitante, encontra-se em posição razoável no cenário internacional. No entanto, o consumo de energia tem crescido 4.6% por ano desde 1970 – duplicando a cada 15 anos – acompanhando de perto o crescimento do produto interno bruto. No período de 1970 a 1996 o consumo de energia triplicou.
O crescimento da população na década de 90, no Brasil, foi de 1.3% ao ano; o consumo de energia per capita, 3.3% ao ano. Por esse fato, é razoável esperar que esse consumo atinja um valor de 2.5 ou 3.0 TEP/capita dentro de 20 anos, aproximando-se do valor atual dos países da Europa, o que será perfeitamente satisfatório porque energia no Brasil não é necessária para o aquecimento de ambiente no inverno.
A pergunta a ser formulada, portanto, é se o país dispõe de recursos naturais – na área de energia – para sustentar tal crescimento nas próximas décadas. Como resposta, em linhas gerais, tem-se: 61% da energia usada no Brasil é de origem renovável, portanto, produzida localmente; energia hidroelétrica (37%); produtos de cana-de-açúcar, incluindo álcool (11%); lenha e outros 13%; o restante (39%) é derivado basicamente de petróleo e gás, metade do qual é importado.
O problema é saber se a contribuição da parte renovável poderá se manter e se a produção interna de petróleo (e gás natural) crescerá de modo a atender uma demanda crescente, ou se passaremos a depender de forma significativa da importação de mais petróleo e gás. Em outras palavras, conhecer quais as reservas energéticas disponíveis e quanto tempo poderão ainda durar. Essas reservas não poderiam ser usadas de forma mais eficiente do que o são atualmente, de modo a prolongar sua vida útil?

A eficiência no uso de energia

É evidente, portanto, que são também necessárias medidas para reduzir o consumo sem prejudicar – se possível – o crescimento da economia brasileira. O consumo de energia no Brasil, pelos diferentes setores da economia, está distribuído na forma indicada na tabela 2.




O setor industrial é o maior consumidor, utilizando cerca de 40% do total de energia consumida. A indústria consome principalmente eletricidade, cuja parcela passou de 39% em 1980 para 48% em 1995.
Os transportes utilizaram aproximadamente 20% da energia consumida no país no período de 1980 a 1995, a maior parte para o transporte rodoviário. O óleo diesel tem sido a principal fonte de energia para os transportes, correspondendo a cerca de 50% da energia consumida pelo setor durante o período analisado. Por outro lado, a parcela da gasolina reduziu-se de 34% em 1980 para 27% em 1995, ao mesmo tempo em que o consumo de etanol cresceu de 5% em 1980 para 18,6% em 1995.
O consumo de combustível (gasolina para transporte) cresceu nos últimos três anos devido ao aumento da frota de automóveis.
O setor residencial utilizou 16% da energia consumida no país em 1995. No período de 1980 a 1995, reduziu gradualmente a sua parcela no consumo total, que era de 20% em 1980, devido à introdução de eletrodomésticos mais eficientes.
A pergunta que se faz é se energia está sendo utilizada eficientemente no país. O indicador usado como medida dessa eficiência é a intensidade energética definida como o consumo de energia (em TEPs) por US$ 1 mil de produto interno bruto. Na figura 2 é mostrada a evolução desse indicador nos últimos 20 anos.




Como pode ser observado, ele se situa em torno do valor 0.4 TEP/US$1 mil, com leve crescimento, refletindo a crescente industrialização do país e os pesados investimentos em infra-estrutura, que são intensivos no uso de energia. Para comparação pode-se mencionar que a intensidade energética da União Européia como um todo é de 0.4 TEP/US$ 1 mil. O parque industrial brasileiro é bastante moderno, podendo contudo se tornar menos intensivo no uso de energia à medida que a economia se oriente para uma atividade maior em serviço, como já ocorreu em países altamente eficientes no uso de energia, como o Japão.
Existem dois programas governamentais cuja função é promover tal procedimento. O Procel (Programa de Conservação de Eletricidade da Eletrobrás) e o Compet, na área de petróleo, conduzido pela Petrobrás, de menor monta.
Estudo realizado em 1993 pelo Ministério de Ciência e Tecnologia indicou que esforços bem conduzidos na área poderiam reduzir em 1% a taxa de crescimento anual do consumo de energia, que passaria de 4.5%/ano para 3.5%/ano, isto é uma redução de cerca de 25%. Ainda assim, o consumo dobraria a cada 20 anos.

É apresentada uma estimativa da energia necessária para dar à população brasileira dentro de 20 anos, um nível de vida comparável ao dos países da Europa. A seguir são analisados os recursos e reservas energéticas do país e as possibilidades que atendam às necessidades previstas bem como estendam sua duração. Finalmente são discutidas as políticas públicas que poderiam levar o país a um desenvolvimento sustentável na área de energia.

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